quinta-feira, 10 de abril de 2014

FESTA DA ENXARA

         Na próxima semana, a Páscoa vai atingir o auge com a Romaria de Nossa Senhora da Enxara, aí vão estar muitas centenas de Campomaiorenses, cumprindo uma tradição com mais de cinquenta anos e que a maioria desta geração desconhece a sua génese.
        Durante a semana da Páscoa, os Campomaiorenses e grupos de cidadãos de outros concelhos e muitos Espanhóis, não prescindem de passar essa semana aí acampados, desfrutando de uma das zonas mais atraentes das margens do Rio Xévora, junto da Igreja, onde dizem ter aparecido Nossa Senhora.
Hoje a romaria tornou-se num evento de grandes dimensões e uma montra gastronómica, de diversões e de um fraterno convívio popular. Nessa semana, o Borrego é o elemento mais importante da gastronomia dos que ali vão acampar e a hospitalidade dos Campomaiorenses sobressai como o cantar das Saias, entoadas pelas suas vozes, acompanhadas pelas pandeiretas e castanholas.
É meu dever, como mais velho, dar a conhecer aos Jovens com menos de 50 anos a razão porque se começou a comemorar a Páscoa na Enxara, é uma História que se deve a alguns Campomaiorenses de barba rija, ela aí vai: “Decorria o ano de 1960, no Tribunal de Elvas, o Juiz de Direito Dr. Patrão condenou diversos Campomaiorenses, dois em penas de prisão (José Maria Napoleão com 30 dias e Mário Serpa, conhecido pelo Papa Ratos, em 40 dias) e outros (António Camilo, Matias Batuca, Cipriano Videira, João Centeno, José Passão, Manuel Borrega, Manuel Calaça, etc.) em 1.149$00 cada um (nessa altura era muito dinheiro) pelo crime de ULTRAJE Á MORAL PÚBLICA.
Esta condenação deveu-se ao facto de na primavera de 1959, como vinha sendo habitual, alguns grupos de amigos que procuravam as margens aprazíveis do Rio Xévora (Salvador e Enxara) para petisqueiras de são convívio. A maioria desses ajuntamentos tinham lugar junto da degradada Igreja de Nossa Senhora da Enxara (que nessa altura servia de guarida ao gado de um abastado agricultor da nossa Vila), terem encenado uma Procissão (simulada), o andor era uma padiola que se encontrava no interior da Igreja e a Imagem era o Valério Fialho (felizmente ainda vivo), ainda muito jovem.
Como se vivia em clima de opressão, em pleno Salazarismo, alguém denunciou ao Cónego Francisco Farinha o sucedido e este transmitiu-o à GNR, que por sua vez iniciou um inquérito e alertou a PIDE.
A verdade é que os Jornais da época fizeram manchetes, e o Jornal do Alentejo “A Defesa” na sua primeira página, em grandes parangonas, denominava o acontecimento como “Alerta Vermelho em Campo Maior”.
O obscurantismo que Salazar impunha e a repressão a que os Portugueses estavam votados, aproveitaram a inocência e a simplicidade de dezena e meia de Campomaiorenses, tentando transformá-los em revolucionários, apodando-os de Comunistas. Quanto muito e se alguma ilação se deveria ter tomado dessa manifestação, seria uma forma de revolta pelo estado de degradação e abandono do Santuário.
Felizmente que os Campomaiorenses tiveram essa percepção e hoje pode-se afirmar, que na década de 60, por esse facto, a Igreja foi entregue à Paróquia de São João Baptista, que procedeu à sua restauração e a abriu ao culto.
É a partir daqui que a População Campomaiorense faz da Enxara o palco especial das comemorações da semana da Páscoa. A Festa em honra de Nossa Senhora da Enxara é um dos momentos mais altos da vida dos Campomaiorenses, tornando-se numa Romaria procurada por centenas de famílias que ali acampam.
Se hoje a Enxara se tornou num local aprazível, de convívio e de culto, devemos reconhecer que isso só foi possível graças à Procissão que levou um Juiz de Direito do Tribunal Judicial de Elvas, a condenar alguns Campomaiorenses por “Ultraje à Moral” e não como “Revolucionários Comunistas”. Bem-haja a esses Homens que ao cumprirem a sentença foram Pessoas de Vistas Largas.”.
Esta é a História da Romaria de Nossa Senhora da Enxara!
Siripipi-Alentejano






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