sábado, 31 de agosto de 2013

CAÇA AO VOTO EM PERÍODO ELEITORAL


As Televisões de hoje nos seus noticiários, em roda pé, referiam que Felipe Menezes tinha proibido o concerto de Toni Carreira em Vila Nova de Gaia por entender que não era “Eticamente Enxuto” em período Eleitoral.
Esta atitude é verdadeiramente democrática por entender que todos têm os mesmos direitos em matéria de propaganda eleitoral. É verdade que no final de cada mandato, os titulares dos Órgãos executivos sentem a necessidade de prestar contas à população do trabalho realizado, o que é justo. Porém não é fácil resistir à tentação de cair na propaganda eleitoral, em seu favor.
Os partidos e as coligações podem fazer essa propaganda, no âmbito das suas atividades, durante o período de campanha, mas as entidades públicas estão vinculadas aos deveres de neutralidade e imparcialidade, bem como à obrigação de igualdade de oportunidades das candidaturas.
Estamos a menos de um mês das Eleições Autárquicas (29 de Setembro), segundo a Lei Eleitoral (Art.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.º.ºº. 39º) entende-se por Propaganda Eleitoral, toda a atividade que vise direta ou indiretamente promoverem candidaturas, nomeadamente a publicação de textos ou imagens que exprimam ou reproduzam o conteúdo dessa atividade (Boletins Municipais, Almoços, Passeios, Inaugurações, Publicidade Auto, etc.).
Esta Lei consigna igualmente (Artº. 40º.) que todos Candidatos, Partidos e Coligações têm o direito a efetuar livremente a sua propaganda eleitoral devendo as Entidades Públicas e Privadas proporcionar-lhes igual tratamento. A campanha eleitoral inicia-se no 12º. dia anterior e finda 24 horas da antevéspera do dia designado.
As Autarquias Locais e os respetivos Titulares, não podem intervir direta ou indiretamente na Campanha Eleitoral, nem praticar atos que de algum modo favoreçam ou prejudiquem um Candidato ou uma Entidade proponente em detrimento ou vantagem de outro, devendo assegurar as igualdades de tratamento e a imparcialidade em qualquer intervenção nos procedimentos eleitorais.
Foi a tomada de posição de Felipe Menezes que me motivou para este trabalho, uma vez que é bom lembrar que é neste período do calendário eleitoral, que surge por todo o País, ações que na maioria das vezes têm essencialmente um cariz eleitoralista. Quem está no Poder tem mais facilidade em promover estes tipos de ação, do que os outros concorrentes, por não disporem de capacidade financeira.
A Lei Eleitoral tem que ser revista por forma a permitir que todas as Candidaturas disponham das mesmas armas e até deveria ser proibido nos três meses que antecedem o ato eleitoral, a realização de inaugurações, passeios, almoços ou jantares temáticos, homenagens e Boletins que possam promover a candidatura de alguém.
É necessário que todas as forças concorrentes aos diversos atos eleitorais possam usufruir dos mesmos direitos, só assim é que poderemos considerar que estamos perante uma verdadeira Democracia.
Campo Maior, 31 de Agosto de 2013
Siripipi-Alentejano

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

OS GANHÕES

Na nossa História Contemporânea, há períodos da vida dos Campomaiorenses (décadas de 50, 60 até Abril de 74) que é necessário os Jovens de hoje, nascidos após aquele período, saberem como foi a vida dos seus progenitores.
As dificuldades que passaram e os enormes sacrifícios a que foram sujeitos pelo Regime Político de então, que os manietava e os inibia de evoluir e mesmo de procurar o seu sustento e da família além fronteira, tornou-os como se fossem prisioneiros na sua própria Terra.
Nesses tempos, a Industria era pouco significativa e a agricultura era a única forma de sustento da maioria da população e estava nas mãos de meia dúzia de abastados Senhores, quase todos da mesma família, que dominavam e faziam o que queriam.
A agricultura desses tempos, ainda pouco mecanizada, era realizada com alfaias agrícolas puxadas por Muares e pela força braçal dos Homens, trabalhando de Sol-a-Sol auferindo magros salários, uns eram mensais, outros eram jornaleiros.
As mulheres eram quase só destinadas às lides caseiras, mas em períodos sazonais (Azeitona, Mondas e Ceifas) trabalhavam arduamente para ajudarem a casa, onde na maioria dos lares só existia os salários dos Maridos e dos Filhos.
Campo Maior, nesse tempo, passou por muitos períodos de fome, a vida era extremamente difícil e tornava-se necessários retirar os filhos da Escola para que pudesse desde muito novos começarem a trabalhar e ganharem mais alguns tostões.
O analfabetismo era muito elevado, facto que interessava ao Governo de então e aos latifundiários, pois não lhes interessava terem muita gente de vistas largas e escolarizada que poder-lhes-ia ser um grande entrave nos seus objetivos.
Os Trabalhadores Rurais eram designados por Jornaleiros ou por Ganhões, considerando que os primeiros dedicavam-se, na maioria dos casos, a trabalhar para Pequenos ou Médios Proprietários onde ganhavam um pouco mais, mas com uma contrariedade porque a maioria das vezes o trabalho não era permanente, passando muitas semanas no ano sem trabalharem.
Os Ganhões eram contratados pelos Lavradores, viviam nos Montes onde dormiam e comiam, trabalhavam do nascer ao pôr-do-Sol e eram pau para toda a colher. As condições de vida nos Montes era quase desumana, dormiam em esteiras ou camas improvisadas, muitas vezes nas cavalharices onde pernoitava o Gado.
A alimentação, confecionada pelos cozinheiros com o avio fornecido pelos Patrões era à base de Grão, Feijão, Sopas de Pão e carne de porco fornecida (Morcela, Farinheira, Toucinho, Queijo, Azeite, Azeitonas) e pouco mais, algumas vezes mal cozinhada. A qualidade da comida dependia do Cozinheiro, que muitas vezes, no dizer de alguns Ganhões, reservava para ele o melhor, faltando na mesa para os Trabalhadores.
Era uma vida difícil e ao fim-de-semana os Ganhões vinham à Vila gozar o seu merecido descanso junto das Famílias e mudar de roupa para a semana de trabalho que os aguardava. O seu salário era de miséria( apesar de lhe chamarem Ganhões) e muitas vezes guardavam o queijo e alguns marrocates (pão feito especialmente para os Ganhões) para trazerem aos Filhos. Nos anos 50/60 os Ganhões auferiam entre 8 ou 10$00 comidos, bebidos e um pequeno avio, os Jornaleiros ganhavam entre os 15 e 20$00. Estes em determinadas épocas do ano (ceifa, azeitona, limpeza e enxertias) ganhavam um pouco mais porque acertavam empreitadas com os respetivos proprietários.
Voltarei noutra altura a falar mais um pouco sobre este tema, mas para terminar, quero lembrar aos mais novos, aos que nasceram após o 25 de Abril de 1974, que o Povo quando não tinha trabalho passava os dias deambulando na procura de alguma ocupação ou entretinha-se nas Tabernas porque os Cafés não estavam ao seu alcance, os que existiam eram frequentados pelos Senhores e pessoal dos Serviços e mesmo os Cafés que existiam tinham determinado tipo de clientela, nem toda a gente frequentava todos os Cafés.
Os Cantos de Baixo era o local, onde os trabalhadores se juntavam, esperando que um Manajeiro os procurasse para trabalhar. É uma situação que sempre considerei ultrajante, os trabalhadores eram escolhidos como se escolhe um bom borrego do rebanho.
Nos finais do anos 60 com a eclosão da guerra em África, a Juventude partiu e a emigração (maioritariamente clandestina) foi a tábua de salvação das nossas Gentes, Campo Maior transformou-se. Felizmente que os Homens abriram os olhos, o Abril de 1974 foi o bálsamo redentor das mazelas deixadas pela Ditadura e os Cantos de Baixo passou a ser um espaço público liberto das garras dos grandes senhores.
Estas e outras são as Histórias que marcaram a vida dos Campomaiorenses, que não podemos esquecer, mas que nos obriga a transmitir à catual e às novas gerações, sob pena de caírem no esquecimento.
Siripipi-alentejano
Campo Maior, 8 de Agosto de 2013

domingo, 4 de agosto de 2013

FESTAS DO POVO - ARTISTAS OU DAS FLORES

A Primavera e o Verão são as épocas do ano mais propícias à realização de Festejos Populares, raras são as Povoações que não festejam os seus Padroeiros ou cumprem tradições herdadas de seus antepassados.
A ornamentação de Ruas tornou-se um hábito em muitas Povoações do nosso País, talvez influenciadas pelas nossas Festa do Povo e há até quem as faça de tempos-a-tempos, imitando-nos e arvorando-se como se fossem eles os verdadeiros percursores dessa tradição cultural.
O tema de hoje vem a propósito da Festa das Flores que decorre na Vila do Redondo e que foi objeto de um artigo intitulado “Festas do Povo Vamos acabar com as imitações”, publicado em Agosto de 1997, no saudoso “Notícias de Campo Maior” por ser interessante e ainda fazer sentido, transcreve-o para memória futura:
FESTAS DO POVO/98 – Vamos Acabar Com As Imitações
Falar das Festas do Povo, é falar da nossa Cultura, das nossas Tradições, dos nossos usos e Costumes, da nossa Hospitalidade, enfim, as Festas do Povo são efetivamente um símbolo vivo de tudo isto. Sempre que surge a ideia da realização de nova edição, muito se escreve e muito se fala, os Campomaiorenses iniciam nas suas mentes uma viajem de sonhos, de imaginações e aí esquematizam e arquitetam o futuro das ornamentações das suas Ruas.
Depois vem o trabalho desinteressado de todo um Povo ao longo de vários meses e esse Povo consegue, com um truque de magia, transformar Campo Maior, da noite para o dia, num Jardim paradisíaco e multicolor onde proliferam milhões das mais belas flores silvestres, feitas de papel.
As Festas do Povo são sem a menor dúvida, o maior cartaz turístico de todo o Alentejo, é um património cultural fabuloso cuja expressão artística é quiçá única no Mundo. Só é possível viver o seu deslumbramento quem a elas assiste e quem conhece o trabalho insano e o esforço dos meses gastos em serões roubados ao descanso de dias árduos de trabalho.
Em recente trabalho que realizei sobre as Festas do Povo/95, questionei os responsáveis da Associação das Festas sobre a apresentação dos seus resultados, igualmente fiz questão de realçar que as nossas Festas são um certame difícil de encontrar em qualquer parte do Mundo por se tratar de um trabalho comunitário de grande envergadura, que envolve toda a comunidade, tendo em conta, como único objetivo, criar as Festas do Povo. Nesse trabalho, escrevi: “Não nos podemos esquecer que hoje existem muitas Terras que nos tentam imitar sem o conseguirem, temos que fazer valer os nossos valores e tudo o que é nosso. As nossas Festas do Povo é que são as originais, as outras não passam de imitações de fraca qualidade, pois falta-lhes a mística de que só os Campomaiorenses são detentores”.
Perante tais factos é imperioso que alguém de direito (Associação ou Câmara) tomem uma atitude, não pretendo dizer qual delas o deve fazer, no entanto, dever-se-á envidar esforços para que junto das Autoridades competentes se possa registar a patente das Festas do Povo ou quiçá de Património Artístico Nacional, como de um produto ou invento se tratasse. É necessário acabar com as imitações!
As Festas do Povo/95 foram visitadas por mais de 1.500.000 de visitantes, não podemos defraudar quem nos visita, pois é do esforço, do poder, desse poder inigualável de criatividade e imaginação, das mãos hábeis e maravilhosas do nosso Povo, é que nasce o encanto e o prestígio que as Festas do Povo de Campo Maior hoje desfrutam, quer em Portugal, quer no Estrangeiro.
É com muita tristeza, até com alguma revolta interior que vejo neste Verão de 1997, aparecer mais imitações das nossa Festas (Redondo, Cartaxo, Canha, Alvalade do Sado e outras) e mais triste fiquei, quando me afirmaram que nalgumas delas existia a colaboração de Campomaiorenses.
Os Campomaiorenses que colaboraram na realização de outras Festas, independentemente de o fazerem por fins económicos,tornaram-se a meu ver, como Mercenários da nossa Cultura, deveriam estar conscientes que a sua ação contraria o espírito dos seus conterrâneos e que estão defraudando um património cultural que temos a obrigação de preservar e até a obrigação e de o incentivar nas camadas mais jovens, explicando-lhes a tradição e os usos e costumes dos nossos antepassados, fazendo-lhes tomar o gosto pela realização periódica das Festas, incitando-os como futuros Homens a Mulheres de amanhã, a dar continuidade a este tão grande expressão Sócio-Cultural, que tanto nos orgulha.
Voltando às imitações, importa falar um pouco sobre as Festas do Redondo, bastante badaladas na RTP e das palavras proferidas pelo Senhor Presidente da Câmara do Redondo, na edição do País Regiões da passada Sexta-Feira, dia 31 de Julho. Aquele Edil teve o arrojo e a pouca vergonha de dizer que as Festas do Redondo são uma tradição daquela Vila, realizando-se de vez em quando com algumas interrupções e que são fruto do trabalho de todo o Povo do Redondo. Nesse mesmo programa e também na Praça da Alegria, várias pessoas intervieram e as suas respostas foram a cópia fiel daquilo que sempre os Campomaiorenses têm dito: a existência de comissões de rua, o sigilo guardado, a angariação de fundos, os descantes ao serão. É uma cópia fiel do que fazemos, é um plágio total das nossas Tradições, da nossa Cultura, dos nossos Usos e Costumes.
Este artigo, algo extenso prossegue, contudo, num dos parágrafos fiz uma chamada de atenção, dizendo: ”não podemos deixar que outras Terras nos ultrapassem, temos que reivindicar os nossos direitos e a melhor forma de o fazer é com a realização de Festas do Povo em 1998, aí com a EXPO/98 poderemos mostrar ao Mundo quem são os Campomaiorenses”
No términus do artigo conclui dirigindo-me aos Jovens e à População em geral: temos que lutar e preservar as nossas Tradições, os nossos Usos e Costumes, a nossa História, temos que alertar os nossos Emigrantes para que os seus Filhos possam também participar, de pleno direito, no maior síbolo vivo da Cultura Campomaiorense, não podemos deixar morrer uma herança tão digna, legada pelos nossos antepassados.
Campo Maior é uma Terra com História, basta olhar e meditar nas insígnias que o seu brazão de armas ostenta – LEAL E VALOROSA VILA DE CAMPO MAIOR – LEALDADE E VALOR.
Vou ficar por aqui, este trabalho não é mais do que lembrar que os Campomaiorenses estão conscientes que as nossas Festas continuam a ser uma realidade, a prova é as que se realizaram depois daquele artigo e que as imitações que se fizerem nunca são iguais ao original.
Siripipi-Alentejano