sábado, 23 de agosto de 2008

TRADIÇÕES

Perdoem-me os mais antigos, mas no tempo da velha senhora, os governantes para manterem o Povo sereno e distraído, davam-lhes festas e transmissões de futebol (ópio do povo) e assim mantinham nos afastados dos problemas do dia-a-dia (a guerra do ultramar, a fome, a discriminação e uma vida de opressão) foram estes contextos que levaram o nosso Povo a procurar a emigração no intuito de terem uma melhor vida e de fugir à ditadura.
Infelizmente a ditadura propriamente dita acabou, a democracia nasceu e a liberdade foi uma dádiva dos Capitães de Abril, todavia, ainda remanesceu alguns focos não da ditadura, mas sim de um novo sistema político mais moderno - a autocracia.
Ao longo da história mais recente, todas as manifestações festivas, quando não religiosas, tinham uma forte vertente política e os políticos com a sua esperteza, têm-se sempre socorrido dessas manifestações culturais para proveito próprio.
Uma das formas mais usadas para obter votos, são os favores políticos, as festas, as excursões, os almoços e jantares a qualquer pretexto, pois nessas práticas podem-se gastar o dinheiro dos contribuintes a seu belo prazer, o que interessa é que se amealhe mais um punhado de votos. O nosso Povo gosta muito destes tipos de actividade, mas as obras mais prementes e de maior necessidade ficam guardadas nas gavetas. O que mais interessa são as Festas!
As Festas do Povo são um símbolo vivo da cultura dos Campomaiorenses e constituem uma verdadeira enciclopédia das nossas tradições, dos nossos usos e costumes e da nossa hospitalidade. É um trabalho desinteressado feito ao longo de vários meses, é um verdadeiro trabalho de cariz comunitário, é um espectáculo genuíno da nossa cultura popular, poucos são os Povos que conseguem realizar esta tão grande magia de cor e beleza.
O investimento nas Festas do Povo é uma aposta no futuro de Campo Maior, é uma forma de criação de uma marca poderosa e de divulgação da nossa realidade e não nos podemos esquecer que as centenas de milhares de visitantes afirmam que as Festas do Povo são únicas no Mundo, porque representam o poder de criatividade, de esforço e de beleza dum Povo que há mais de um século sabe fazer das suas Festas o mais belo cartaz turístico da sua Terra e da sua Região.
É pena que a Câmara Municipal não aproveite este verdadeiro património popular e sacuda a água do capote, como diz o Povo, e no seu site de apresentação da Semana das Tradições diga: "A organização e gestão das Festas do Povo compete a uma Associação legalmente constituída para o efeito, em virtude da Direcção Administrativa se ter demitido não é possível realizar as Festas do Povo de 2008".
É compreensível a razão desta frase. Diria mesmo, que é desculpa de mau pagador e porquê?
Antigamente não existia Associação e as Festas, quando a vontade do Povo as decidia, organizava-se uma Comissão e com o apoio da Autarquia as Festas realizavam-se, não era preciso haver Associação, o que contava era a voz dos Campomaiorenses. Hoje, os tempos são outros e até a União Europeia tem programas que podem comparticipar as Festas, o que sucedeu nas últimas que foram comparticipadas em cerca de 250.000 € (50.000 contos).
O que é de lamentar é que se gaste milhares de contos na moeda antiga em todo o tipo de Festas e não existir vontade em apelar ao Povo para que não deixe morrer as Festas do Povo. Todos sabemos que existem dezenas de Terras a imitar-nos e os seus Municípios, mesmo sabendo que é um plágio, são os primeiros a dar-lhes apoio.
Em Campo Maior tudo é diferente, a nossa Cultura é uma fonte de despesismo e o que se deveria fazer fica no esquecimento, agora inventou-se a Semana das Tradições com Desfiles Etnográficos e as Varandas de São João. No próximo ano há eleições, talvez João Burrica o queira aproveitar para retirar alguns dividendos, nunca se sabe!
Neste evento de nove dias e segundo o programa oficial vão desfilar 20 agrupamentos de outros concelhos (deslocação, cache e alimentação) e 5 de Campo Maior (Grupo Etnográfico de Campo Maior; Rancho Folclórico de Campo maior; Grupo de Amigos das Harmónicas; Musical União de Degolados e Grupo de Saias de Campo Maior).
Das Tradições anunciadas a única que eventualmente tem a sua razão de ser são os Aventais e mesmo esses só os maiores de 60 anos se recordarão de serem exibidos pelas Mulheres em domingos e dias festivos. Os trajos das profissões são-nos mostrados pelos vinte grupos que nos visitam e que vão desfilar. os trajes de Campo Maior têm que ser retirados dos baús das nossa avós e os vestidos de chita são mais uma miragem da Senhora Vereadora da Cultura, é natural que a tenham elucidado que há alguma dezenas de anos, durante os carnavais, as marchas do Joaquim Elvas, António Bajé e Carrasco, mostravam e falavam de saias brancas e riscadinhas e de vestidos de chita (roupa usada no princípio do século passado).
Estas Tradições, na minha opinião, é mais um atentado à nossa cultura, aos nossos usos e costumes e à memória dos nossos antepassados e só servem para que os Restaurantes, na mostra de gastronomia, possam servir refeições às centenas de figurantes dos diversos grupos que se têm de alimentar. As Janelas de São João, como no ano passado, vão induzir erradamente alguns Turistas que se deslocam a Campo Maior pensando que se trata das Festas do Povo.
Finalmente e como já o fiz o ano passado, quero dizer ao Senhor Presidente da Câmara que contrariamente ao que afirma e subscreve no preâmbulo do Programa Oficial, estas Tradições não são as Festas que os Campomaiorenses gostam de participar, é uma grande mentira e até demagógico afirmar que se trata de um momento de grande exaltação da nossa cultura, do nosso bairrismo e da nossa forma de ser.
Se o saudoso Fernando Pessa fosse vivo diria: E esta heim!
Tudo o que alega João Burrica é sim aplicável às Festas do Povo e nunca às Tradições, por muito que queira fazer é o mesmo que dizer " É tapar os olhos com a peneira".
Campo Maior, 23 de Agosto de 2008
siripipi-alentejano

2 comentários:

siripipi alentejano disse...

Há um lapso no meu texto, ode diz "infelizmente" queria e quero dizer FELIZMENTE.
siripipi-alentejano

Três horas da manhã disse...

Boas caro Siripipi!

Bem o povo(grande parte) sempre se deixou manobrar pelos governates, através da actividades que tem um efeito a ópio, do que nos fala Fernando Pessoa e o qual tão bem definiu, no seu poema o "Opiário". Consultem aqui esse mesmo poema http://www.tanto.com.br/fernandopessoa-opiario.htm .

As nossas Festas do Povo são a nossa maior identidade e a nossa maior tradição!!! Não vale a pena, a Sra. Golaio inventar tradições nunca existentes em Campo Maior... Enfim! Digo mais, a cultura da nossa terra é um circo, onde quem vende pipocas são ALGUNS dos RESTAURANTES da nossa Vila!!!

Venham as Festas do Povo...