terça-feira, 21 de outubro de 2014

RECORDAR COM SAUDADE
Por vezes vejo-me meditando em episódios da vida, factos ocorridos que nos deixaram com alguma nostalgia, mas que ao lembrá-los nos transportam para esses tempos, como se estivessem agora a acontecer.
São esses rasgos de memória, de tempos que já não voltam, que modificaram a vida das Pessoas, da Sociedade onde estamos inseridos, que transformaram o País num gueto onde impera a Lei do mais forte e o desrespeito pela forma de viver das Pessoas.
Os últimos cinquenta anos do século XX da vida de Campo Maior são um exemplo das várias alternâncias por que passamos, designadamente nas áreas sociais, agrícola, industriais e até políticas.
A transformação advinda da Revolução dos Cravos e o estabelecimento de um regime Democrático  contribuiu para a evolução e modernização de todos os sectores da vida.
A Agricultura sendo a maior fonte de trabalho, eram ainda incipiente, pouco desenvolvida tecnicamente, limitando-se à produção de cereais, azeitona e mais tarde com o regadio começaram a surgir outras produções. A maioria do trabalho era executado pelas alfaias agrícolas puxadas pelas muares e na época sazonal as ceifas e a apanha estavam a cargo dos agricultores.
A Maquinaria e equipamentos industriais afectos começaram a surgir nos anos sessenta e com o seu aparecimento e evolução tecnológica, contribuíram para o desaparecimento das juntas de muares e a vida nos Montes para os Ganhões, também diminuiu, tal como as migrações dos Ratinhos nas Ceifas e na Azeitona.
A vida era pacata no dia-a-dia, mas aos fins-de-semana com a vinda do Pessoal dos Montes a vida agitava-se (hoje já não há gente nos Montes e a maioria estão degradados), as Tabernas enchiam-se e à noite bailava-se e cantavam-se as Saias em Cocheiras ou nos Largos. A Azáfama no campo era uma actividade dura e mal paga, trabalhava-se se Sol a Sol (o 25 de Abril alterou esta situação), mas no final das campanhas – Monda, Ceifa, Azeitona, era pretexto para Bailaricos e outros Festejos.
Antes do aparecimento das Ceifeiras Debulhadeiras, os cereais eram debulhados em diversas Eiras, a maior era a do Rossio e aí os pequenos proprietários debulhavam os cereais com as muares ou à Máquina, pagando uma maquia.
No período da Azeitona eram imensos os ranchos para a sua apanha, os Lagares trabalhavam de dia e de noite, alguns deles até Fevereiro para moerem as milhares de Toneladas que se colhiam, dos muitos Lagares que existiam, hoje já não existe nenhum e o se os há são particulares para utilização própria.
Actualmente tudo o que anteriormente narrei passou a ser História, a Azeitona que se colhe é adquirida por Industriais e transformada noutras zonas, a que resta é levada para Espanha e ainda há quem não a colha porque não é rentável face aos preços que se pratica na apanha ou na compra.
As Searas de Trigo, Cevada, Aveia, Grão-de-Bico deixaram de se fazer, o que existe são manadas de Vacas, rebanhos de Ovelhas metidos em aramados onde basta só uma pessoa para os guardar e o subsídio dás-lhes uma maior valia económica.
Tal como Camões dizia “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades” a vida de Campo Maior e dos Campomaiorenses, nesses últimos cinquenta anos do século passado, deu um salto abismal pela as evoluções que se verificaram.
A Agricultura modernizou-se por força dos novos equipamentos que foram surgindo, essa evolução fez diminuir a mão-de-obra, o que foi mau num sentido, todavia, a mecanização formou especialistas, trouxe novas actividades e criou algumas industrias transformadoras, com a consequente inserção desses Trabalhadores.
Para a História ficam como recordação as Alfaias que eram utilizadas, as Carroças e os usos e costumes que vão perdurar no tempo e na memória de cada um.
A vida dos Povos é como uma manta de retalhos, constrói-se cozendo e unindo cada bocado das nossas recordações.
Siripipi-Alentejano

Campo Maior, 21 de Outubro de 2014

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