sábado, 4 de outubro de 2014

MALTESES E PSEUDO-BURGUESES
Nos anos cinquenta e sessenta do século passado, muito anos antes da Democracia, o País vivia com muitas dificuldades pela força opressiva dos governos de Salazar e seus acólitos. A Ditadura impunha e defendia a existência de três Classes Sociais, os Pobres que eram a esmagadora maioria, os Remediados que constituíam a classe Média e era formada pelos pequenos proprietário, comerciantes, oficiais de diversas actividades e finalmente os Ricos, ou seja, os senhores da terra, do dinheiro, enfim, os privilegiados ou nascidos em berços de ouro.
Liberdade era palavra vã, não existia e nem era permitido o direito de reunião e quem prevaricasse, era ouvido pelas Autoridades e presente a Tribunais Sumários, para depois de julgados serem presos e alguns desterrados para as antigas Colónias.
A vida dos Portugueses, num Portugal subdesenvolvido, sem indústria e com uma agricultura primária e insípida, imperava o desemprego e as suas necessidades eram cada vez maiores, dando lugar à miséria e à fome.
A Educação e a Saúde eram igualmente áreas deficitárias e pouco desenvolvidas, Escolas e Hospitais inexistentes ou sem condições para darem resposta às necessidades mais prementes das Populações do interior, o que não sucedia nas Vilas e Cidades mais populosas.
A maioria dos Portugueses eram analfabetos e incultos, poucos poderiam aspirar ao ensino secundário ou superior por falta de meios e pela inexistência de Estabelecimentos de Ensino, só os ricos ou os que os Pais tinham possibilidades mandavam seus filhos estudar, o resto dedicava-se a biscates nos serviços, a aprenderem um ofício e a grande maioria dedicava-se à agricultura ou deambulava de Terra em Terra, de manta e sacola à costa, pedindo aqui e ali, na procura de um trabalho para se sustentar, esses Homens eram conhecidos por MALTEZES.
Os Malteses, assim apodados pelos naturais das Terras onde apareciam, andavam de Monte em Monte na procura de trabalho e de poderem matar a fome. Quando a sorte os bafejava, fixavam-se nas Terras que os acolhia, formavam família, mas nunca mais deixavam de ser conhecidos como Malteses, mas depois de integrados e quando a sua história de vida fosse conhecida, muitas vezes passavam a ser apelidados com o nome da sua Terra de naturalidade.
A guerra de África, no início dos anos sessenta, por determinação dos Governos ditatoriais, determinaram o envio de milhares de Militares para combaterem os Movimentos de Libertação, esse êxodo forçado durou até 1974, contribuindo para deixasse de haver MALTESES.
Em Campo Maior ainda há muitos Homens que aqui chegaram de manta, cajado e sacola às costas, que aqui se fixaram e que para nossa felicidade, muitos ainda são vivos.
Há no entanto, nessa época já distante, um outro êxodo (migração) muito mais importante, totalmente diferente dos Malteses, que procuraram a nossa terra e que eram conhecidos por GALEGOS, a maioria provenientes da Beira Baixa adquiriram terras e dedicaram-se à Agricultura com muito êxito.
Para os da minha geração, tudo isto lhes é familiar, mas as gerações nascidas depois da Revolução dos Cravos desconhece esta fase da nossa História contemporânea, é para eles que aqui retrato algo da vida de Campo Maior e da miscelânea de sangues que advieram de casamentos e de uniões de facto com gentes naturais de Campo Maior.
Também é bom salientar que muitos Malteses e Galegos evoluíram e progrediram na vida, tornando-se Burgueses.
Diz o Povo, e com muita razão: “As nossas Terras costumam ser mais Madrastas do que Mães”. A maior das verdades é que todos os que para aqui vierem por bem, são sempre bem recebidos e integrados na nossa Sociedade.
Siripipi-Alentejano
Campo Maior, 4 de Outubro de 2014



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