MALTESES
E PSEUDO-BURGUESES
Nos
anos cinquenta e sessenta do século passado, muito anos antes da Democracia, o
País vivia com muitas dificuldades pela força opressiva dos governos de Salazar
e seus acólitos. A Ditadura impunha e defendia a existência de três Classes
Sociais, os Pobres que eram a esmagadora maioria, os Remediados que constituíam
a classe Média e era formada pelos pequenos proprietário, comerciantes, oficiais
de diversas actividades e finalmente os Ricos, ou seja, os senhores da terra, do
dinheiro, enfim, os privilegiados ou nascidos em berços de ouro.
Liberdade
era palavra vã, não existia e nem era permitido o direito de reunião e quem
prevaricasse, era ouvido pelas Autoridades e presente a Tribunais Sumários,
para depois de julgados serem presos e alguns desterrados para as antigas
Colónias.
A
vida dos Portugueses, num Portugal subdesenvolvido, sem indústria e com uma agricultura
primária e insípida, imperava o desemprego e as suas necessidades eram cada vez
maiores, dando lugar à miséria e à fome.
A
Educação e a Saúde eram igualmente áreas deficitárias e pouco desenvolvidas,
Escolas e Hospitais inexistentes ou sem condições para darem resposta às
necessidades mais prementes das Populações do interior, o que não sucedia nas
Vilas e Cidades mais populosas.
A
maioria dos Portugueses eram analfabetos e incultos, poucos poderiam aspirar ao
ensino secundário ou superior por falta de meios e pela inexistência de
Estabelecimentos de Ensino, só os ricos ou os que os Pais tinham possibilidades
mandavam seus filhos estudar, o resto dedicava-se a biscates nos serviços, a
aprenderem um ofício e a grande maioria dedicava-se à agricultura ou deambulava
de Terra em Terra, de manta e sacola à costa, pedindo aqui e ali, na procura de
um trabalho para se sustentar, esses Homens eram conhecidos por MALTEZES.
Os
Malteses, assim apodados pelos naturais das Terras onde apareciam, andavam de
Monte em Monte na procura de trabalho e de poderem matar a fome. Quando a sorte
os bafejava, fixavam-se nas Terras que os acolhia, formavam família, mas nunca mais
deixavam de ser conhecidos como Malteses, mas depois de integrados e quando a
sua história de vida fosse conhecida, muitas vezes passavam a ser apelidados
com o nome da sua Terra de naturalidade.
A
guerra de África, no início dos anos sessenta, por determinação dos Governos
ditatoriais, determinaram o envio de milhares de Militares para combaterem os
Movimentos de Libertação, esse êxodo forçado durou até 1974, contribuindo para
deixasse de haver MALTESES.
Em
Campo Maior ainda há muitos Homens que aqui chegaram de manta, cajado e sacola
às costas, que aqui se fixaram e que para nossa felicidade, muitos ainda são
vivos.
Há
no entanto, nessa época já distante, um outro êxodo (migração) muito mais
importante, totalmente diferente dos Malteses, que procuraram a nossa terra e
que eram conhecidos por GALEGOS, a maioria provenientes da Beira Baixa
adquiriram terras e dedicaram-se à Agricultura com muito êxito.
Para
os da minha geração, tudo isto lhes é familiar, mas as gerações nascidas depois
da Revolução dos Cravos desconhece esta fase da nossa História contemporânea, é
para eles que aqui retrato algo da vida de Campo Maior e da miscelânea de
sangues que advieram de casamentos e de uniões de facto com gentes naturais de
Campo Maior.
Também
é bom salientar que muitos Malteses e Galegos evoluíram e progrediram na vida,
tornando-se Burgueses.
Diz
o Povo, e com muita razão: “As nossas Terras costumam ser mais Madrastas do que
Mães”. A maior das verdades é que todos os que para aqui vierem por bem, são
sempre bem recebidos e integrados na nossa Sociedade.
Siripipi-Alentejano
Campo
Maior, 4 de Outubro de 2014
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