RECORDAR
COM SAUDADE
Por
vezes vejo-me meditando em episódios da vida, factos ocorridos que nos deixaram
com alguma nostalgia, mas que ao lembrá-los nos transportam para esses tempos,
como se estivessem agora a acontecer.
São
esses rasgos de memória, de tempos que já não voltam, que modificaram a vida
das Pessoas, da Sociedade onde estamos inseridos, que transformaram o País num
gueto onde impera a Lei do mais forte e o desrespeito pela forma de viver das
Pessoas.
Os
últimos cinquenta anos do século XX da vida de Campo Maior são um exemplo das
várias alternâncias por que passamos, designadamente nas áreas sociais, agrícola,
industriais e até políticas.
A
transformação advinda da Revolução dos Cravos e o estabelecimento de um regime
Democrático contribuiu para a evolução e
modernização de todos os sectores da vida.
A
Agricultura sendo a maior fonte de trabalho, eram ainda incipiente, pouco desenvolvida
tecnicamente, limitando-se à produção de cereais, azeitona e mais tarde com o
regadio começaram a surgir outras produções. A maioria do trabalho era
executado pelas alfaias agrícolas puxadas pelas muares e na época sazonal as
ceifas e a apanha estavam a cargo dos agricultores.
A
Maquinaria e equipamentos industriais afectos começaram a surgir nos anos
sessenta e com o seu aparecimento e evolução tecnológica, contribuíram para o
desaparecimento das juntas de muares e a vida nos Montes para os Ganhões,
também diminuiu, tal como as migrações dos Ratinhos nas Ceifas e na Azeitona.
A
vida era pacata no dia-a-dia, mas aos fins-de-semana com a vinda do Pessoal dos
Montes a vida agitava-se (hoje já não há gente nos Montes e a maioria estão
degradados), as Tabernas enchiam-se e à noite bailava-se e cantavam-se as Saias
em Cocheiras ou nos Largos. A Azáfama no campo era uma actividade dura e mal
paga, trabalhava-se se Sol a Sol (o 25 de Abril alterou esta situação), mas no
final das campanhas – Monda, Ceifa, Azeitona, era pretexto para Bailaricos e
outros Festejos.
Antes
do aparecimento das Ceifeiras Debulhadeiras, os cereais eram debulhados em
diversas Eiras, a maior era a do Rossio e aí os pequenos proprietários
debulhavam os cereais com as muares ou à Máquina, pagando uma maquia.
No
período da Azeitona eram imensos os ranchos para a sua apanha, os Lagares
trabalhavam de dia e de noite, alguns deles até Fevereiro para moerem as
milhares de Toneladas que se colhiam, dos muitos Lagares que existiam, hoje já
não existe nenhum e o se os há são particulares para utilização própria.
Actualmente
tudo o que anteriormente narrei passou a ser História, a Azeitona que se colhe
é adquirida por Industriais e transformada noutras zonas, a que resta é levada
para Espanha e ainda há quem não a colha porque não é rentável face aos preços
que se pratica na apanha ou na compra.
As
Searas de Trigo, Cevada, Aveia, Grão-de-Bico deixaram de se fazer, o que existe
são manadas de Vacas, rebanhos de Ovelhas metidos em aramados onde basta só uma
pessoa para os guardar e o subsídio dás-lhes uma maior valia económica.
Tal
como Camões dizia “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades” a vida de Campo
Maior e dos Campomaiorenses, nesses últimos cinquenta anos do século passado,
deu um salto abismal pela as evoluções que se verificaram.
A
Agricultura modernizou-se por força dos novos equipamentos que foram surgindo,
essa evolução fez diminuir a mão-de-obra, o que foi mau num sentido, todavia, a
mecanização formou especialistas, trouxe novas actividades e criou algumas
industrias transformadoras, com a consequente inserção desses Trabalhadores.
Para
a História ficam como recordação as Alfaias que eram utilizadas, as Carroças e
os usos e costumes que vão perdurar no tempo e na memória de cada um.
A
vida dos Povos é como uma manta de retalhos, constrói-se cozendo e unindo cada
bocado das nossas recordações.
Siripipi-Alentejano
Campo
Maior, 21 de Outubro de 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário