FESTA DA ENXARA
Na próxima semana, a
Páscoa vai atingir o auge com a Romaria de Nossa Senhora da Enxara, aí vão
estar muitas centenas de Campomaiorenses, cumprindo uma tradição com mais de
cinquenta anos e que a maioria desta geração desconhece a sua génese.
Durante a semana da Páscoa, os Campomaiorenses e grupos de cidadãos
de outros concelhos e muitos Espanhóis, não prescindem de passar essa semana aí
acampados, desfrutando de uma das zonas mais atraentes das margens do Rio
Xévora, junto da Igreja, onde dizem ter aparecido Nossa Senhora.
Hoje
a romaria tornou-se num evento de grandes dimensões e uma montra gastronómica,
de diversões e de um fraterno convívio popular. Nessa semana, o Borrego é o
elemento mais importante da gastronomia dos que ali vão acampar e a
hospitalidade dos Campomaiorenses sobressai como o cantar das Saias, entoadas
pelas suas vozes, acompanhadas pelas pandeiretas e castanholas.
É
meu dever, como mais velho, dar a conhecer aos Jovens com menos de 50 anos a
razão porque se começou a comemorar a Páscoa na Enxara, é uma História que se
deve a alguns Campomaiorenses de barba rija, ela aí
vai: “Decorria
o ano de 1960, no Tribunal de Elvas, o Juiz de Direito Dr. Patrão condenou
diversos Campomaiorenses, dois em penas de prisão (José Maria Napoleão com 30
dias e Mário Serpa, conhecido pelo Papa Ratos, em 40 dias) e outros (António
Camilo, Matias Batuca, Cipriano Videira, João Centeno, José Passão, Manuel
Borrega, Manuel Calaça, etc.) em 1.149$00 cada um (nessa altura era muito
dinheiro) pelo crime de ULTRAJE Á MORAL PÚBLICA.
Esta
condenação deveu-se ao facto de na primavera de 1959, como vinha sendo
habitual, alguns grupos de amigos que procuravam as margens aprazíveis do Rio
Xévora (Salvador e Enxara) para petisqueiras de são convívio. A maioria desses
ajuntamentos tinham lugar junto da degradada Igreja de Nossa Senhora da Enxara
(que nessa altura servia de guarida ao gado de um abastado agricultor da nossa
Vila), terem encenado uma Procissão (simulada), o andor era uma padiola que se encontrava
no interior da Igreja e a Imagem era o Valério Fialho (felizmente ainda vivo),
ainda muito jovem.
Como
se vivia em clima de opressão, em pleno Salazarismo, alguém denunciou ao Cónego
Francisco Farinha o sucedido e este transmitiu-o à GNR, que por sua vez iniciou
um inquérito e alertou a PIDE.
A
verdade é que os Jornais da época fizeram manchetes, e o Jornal do Alentejo “A
Defesa” na sua primeira página, em grandes parangonas, denominava o
acontecimento como “Alerta Vermelho em Campo Maior”.
O
obscurantismo que Salazar impunha e a repressão a que os Portugueses estavam
votados, aproveitaram a inocência e a simplicidade de dezena e meia de
Campomaiorenses, tentando transformá-los em revolucionários, apodando-os de
Comunistas. Quanto muito e se alguma ilação se deveria ter tomado dessa
manifestação, seria uma forma de revolta pelo estado de degradação e abandono
do Santuário.
Felizmente
que os Campomaiorenses tiveram essa percepção e hoje pode-se afirmar, que na
década de 60, por esse facto, a Igreja foi entregue à Paróquia de São João
Baptista, que procedeu à sua restauração e a abriu ao culto.
É
a partir daqui que a População Campomaiorense faz da Enxara o palco especial
das comemorações da semana da Páscoa. A Festa em honra de Nossa Senhora da
Enxara é um dos momentos mais altos da vida dos Campomaiorenses, tornando-se
numa Romaria procurada por centenas de famílias que ali acampam.
Se
hoje a Enxara se tornou num local aprazível, de convívio e de culto, devemos
reconhecer que isso só foi possível graças à Procissão que levou um Juiz de
Direito do Tribunal Judicial de Elvas, a condenar alguns Campomaiorenses por
“Ultraje à Moral” e não como “Revolucionários Comunistas”. Bem-haja a esses
Homens que ao cumprirem a sentença foram Pessoas de Vistas Largas.”.
Esta é a História da Romaria de
Nossa Senhora da Enxara!
Siripipi-Alentejano
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