quinta-feira, 5 de setembro de 2013

QUANTO MAIS SE ESCREVE, MAIS SE PENSA!...


De vez enquanto dedico-me a momentos de leitura, folheio livros ou revistas e quando surge algo de especial, faço uma pausa, leio e medito um pouco sobre o que li.
Numa dessas noites, li um ensaio de António C. da Silva sobre a “A Escrita e o Saber” deparei com algumas afirmações que me levaram a meditar profundamente, já que também sou pessoa que gosta de escrever. Esse trabalho inicia como uma citação de Paul Valéry, inserta no Dicionário de Citações, de Florence Montreynaud, que diz: “Quanto mais se escreve, menos se pensa”. Eu entendo que se trata de uma afirmação estranha, uma vez que não posso dissociar o pensamento da função escrever.
A escrita, mesmo não sendo pessoal nem livre, constitui, efetivamente, um bom exercício intelectual de criação e de representação permanente dos conhecimentos.
Compreendo as divagações dos autores nessa matéria, todavia, sou defensor de que “Quanto mais se escreve, mais se pensa”. Devemos sempre acreditar na escrita como forma de conhecimento e de pensamento, mas também como teia que nos limita e nos separa da vivência livre do pensamento vago, como afirmou Lionel Bellenger: “Escrever é falar de si através do estilo, das palavras, é uma forma de pensar, mas escrever é também atravessar uma selva de princípios, de regras, de usos e de conveniências”.
São estas e outras razões que obrigam quem tem a responsabilidade de escrever comunicando, a pensar antes de o fazer. Concordo em absoluto com a opinião de Bellenger, quando diz: “Escrever é atravessar uma selva de princípios…”, que o digam os profissionais da nossa Comunicação Social.
Este ano tem sido farto em notícias bombásticas (corrupção de políticos, no mundo do futebol e arbitragem, divulgação de matérias tidas como segredos de justiça, conflitos bélicos um pouco por todo o Mundo, divulgação de documentações objeto de redes de espionagem, etc.), os Jornalistas perante estes fatos, fazem grandes reportagens e artigos de fundo, é óbvio que os artigos têm-se que sustentar em fatos concretos, em pesquisas aturadas, rocambolesca por vezes e em exercícios de pensamento que lhes permitam, com fluência demonstrar aos seus leitores, a veracidade e a autenticidade das suas notícias.
Ao falar da escrita importa lembrar, antes de mais, nos diversos tipos de pessoas que se dedicam ao árduo trabalho de escrever. Há, os que escrevem por vocação (escritores) e os que escrevem por obrigação (os escreventes). Os primeiros escrevem para pensarem melhor e os segundos pensam para escreverem melhor; aqueles conhecem os seus pensamentos, estes pensam no seu conhecimento; os escritores vivem para escrever e os escreventes para (poder) viver.
Apesar de tudo, é evidente que a língua e o mundo, a escrita e o saber podem, de fato, não estar associados.
Agora, pensemos nos analfabetos que desconhecem a escrita e que poderíamos achar que eles não pensam nem sabem, mas, na realidade, pensam bem com os seus sentidos e conhecem perfeitamente o seu mundo existencial, que captam graças a outros meios de fixação da realidade.
Há tanta gente dita analfabeta que sabe, sem terem sido ensinados!
Concluindo, pode-se afirmar, mesmo não concordando com aquela citação, que Paul Valéry tem as suas razões para sustentar que a escrita e o pensamento são, de certo modo, incompatíveis, porque há aqueles que escrevem e não pensam, mas há também os que pensam sem saber escrever.
Siripipi-Alentejano

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